Segundo Moritz Gerstung, cientista computacional e um dos líderes da pesquisa, “assim como grandes modelos de linguagem podem aprender a estrutura de frases, este modelo de IA aprende a ‘gramática’ dos dados de saúde para modelar os históricos médicos como sequências de eventos ao longo do tempo".
A oftalmologista Isabela Porto, do CBV Hospital de Olhos, em Brasília, observa que, embora a inteligência artificial mostre grande potencial, seu uso na medicina deve ser cauteloso. "Para evitar erros, é necessário um treinamento robusto em bases de dados diversificadas, validação rigorosa e a supervisão constante dos médicos, que devem continuar a desempenhar um papel central nas decisões clínicas. O uso isolado de algoritmos pode ser arriscado, já que falsos positivos podem gerar exames desnecessários e aumentar a ansiedade do paciente, enquanto falsos negativos podem atrasar diagnósticos importantes", alerta Porto.
A médica também destaca a importância de uma comunicação cuidadosa dos resultados. “Para reduzir o impacto psicológico das previsões, os resultados devem ser apresentados como probabilidades, acompanhados de orientações práticas. Assim, a tecnologia pode se tornar uma aliada na prevenção e no cuidado em saúde".
Suamy Goulart, médica do Grupo Mantevida em Brasília, complementa as preocupações levantadas por Porto. Embora ela veja grandes expectativas para o modelo de IA na medicina preventiva, também acredita que ainda há obstáculos significativos. "As previsões são confiáveis apenas quando baseadas em dados amplos e atualizados. Esses modelos precisam ser validados em diferentes hospitais, muitas vezes em modo de teste, antes de se aplicarem no cuidado direto de pacientes", afirma Goulart.
Por fim, a médica conclui: "É fundamental equilibrar inovação e responsabilidade, garantindo que a tecnologia seja usada de forma ética, com total respeito aos direitos dos pacientes".