Imagem: Divulgação/Samuel Wilson, James Neely, Mark Willis, Chester Walker e Blas Castellon-Huerta
Monte no México com 62 metros em Formato de Escorpião servia para observar o Sol
Local foi revelado em 2014 e tem grande importância para o entendimento da relação dos antigos mesoamericanos com os solstícios solares.
10 de Outubro de 2025 às 14:55
Pesquisadores descobriram no México um monte monumental de 62,5 metros de altura, construído no formato de um escorpião. Segundo os especialistas, esse local foi projetado para observar os solstícios de verão e inverno, fenômenos astronômicos que marcam as transições das estações do ano.
A pesquisa, coordenada pelo arqueólogo James Neely, da Universidade do Texas, foi publicada na revista Ancient Mesoamerica no final de agosto. Embora o monte tenha sido inicialmente encontrado em 2014, quando outros especialistas estudavam sistemas de irrigação pré-históricos no Vale de Tehuacán, foi a equipe de Neely quem se dedicou a investigar com mais profundidade as características do local.
O monte, que faz parte de um complexo cívico e cerimonial de cerca de 9 hectares, foi datado entre os anos de 600 e 1100 d.C., período que abrange as fases Clássico Tardio e Pós-Clássico Inicial. Durante as escavações, foram encontrados diversos artefatos, como tigelas, jarras de cerâmica, fragmentos de pratos e queimadores de incenso, que ajudaram a determinar o momento histórico de sua construção.
Conexões com Agricultura e Religião
Este monte é um dos doze que formam o complexo, e seu formato distinto de escorpião o torna especialmente notável. Embora outros montes da região possuíssem salas e paredes, o do escorpião foi projetado para representar o animal. A construção foi orientada de maneira a alinhar-se com o nascer do sol durante o solstício de verão, o que foi confirmado através do estudo da trajetória solar.
As observações realizadas mostraram que, em determinados períodos do ano, a posição do Sol se encaixava perfeitamente nas partes do monte, funcionando como um calendário natural para os mesoamericanos. Durante o solstício de verão, o Sol nascia sobre a ponta da garra esquerda do escorpião. Antes desse momento, o astro surgia entre as duas garras, sinalizando a proximidade da época de chuvas, ideal para o plantio. Já no solstício de inverno, o pôr do sol se alinhava com o ferrão do escorpião.
Além disso, os pesquisadores descobriram que esse tipo de observação solar não era restrito à elite mesoamericana. “É a primeira indicação de que o conhecimento e controle dos fenômenos solares não eram monopolizados pela classe dominante”, destacou Neely em entrevista ao portal Live Science.
O formato de escorpião também pode ter sido influenciado pela associação do animal com a divindade Tlāhuizcalpantēcuhtli, ligada ao planeta Vênus, um deus importante para as culturas mesoamericanas.
Por fim, a descoberta destaca a complexidade da sociedade mesoamericana e a autonomia das populações rurais da época. “Os campesinos pré-históricos viviam de forma mais independente, com maior autodeterminação, longe do controle direto da elite, o que os torna mais semelhantes aos seus equivalentes modernos”, concluiu Neely.
