Dois medicamentos contra o câncer mostram potencial para tratar o Alzheimer

Uma pesquisa liderada por cientistas da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) e dos Institutos Gladstone, nos Estados Unidos, identificou dois medicamentos usados contra o câncer que podem ter efeito promissor no combate à forma mais comum de demência, o Alzheimer.

Testes realizados em camundongos demonstraram que a combinação dos fármacos letrozol, utilizado no tratamento do câncer de mama, e irinotecano, indicado para câncer de cólon e pulmão, conseguiu reverter danos cerebrais causados pela doença e restaurar a memória dos animais.

Cada um dos compostos atua sobre tipos distintos de células cerebrais, e o uso conjunto revelou-se especialmente eficaz. O achado foi divulgado nesta segunda-feira (21/7) na prestigiada revista científica Cell.

Estratégia computacional inovadora
O estudo partiu de uma análise detalhada sobre como o Alzheimer modifica a expressão genética no cérebro humano. Com esses dados em mãos, os pesquisadores compararam as alterações observadas com os efeitos provocados por 1.300 medicamentos já aprovados pela agência reguladora dos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration).

De 1.300 remédios a uma combinação promissora
Durante a triagem, os cientistas identificaram 86 fármacos com potencial de reverter os efeitos da doença em pelo menos um tipo de célula cerebral. Desses, apenas 10 já estavam aprovados para uso em humanos — e cinco deles se destacaram por atuarem sobre diferentes tipos celulares afetados pelo Alzheimer, como os neurônios e as células da glia, que têm papel essencial no suporte e proteção dos neurônios.

Para validar os achados, a equipe também cruzou os dados laboratoriais com prontuários médicos anônimos de mais de 1,4 milhão de pacientes com mais de 65 anos, integrantes do sistema de saúde da Universidade da Califórnia. A análise mostrou que algumas das substâncias estavam associadas a um risco menor de desenvolvimento da doença ao longo do tempo.

“Graças a todas essas fontes de dados existentes, passamos de 1,3 mil medicamentos para 86, para 10 e para apenas cinco. É como um ensaio clínico simulado”, explicou o principal autor do estudo, Yaqiao Li, também da UCSF.

Caminho promissor, mas ainda em fase pré-clínica
Embora os resultados sejam animadores, os autores reforçam que os testes ainda estão em estágio inicial, realizados apenas em modelos animais. O próximo passo será iniciar ensaios clínicos em humanos para avaliar a segurança e a eficácia da combinação terapêutica.

Ainda assim, a descoberta traz nova esperança para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra o Alzheimer, uma doença que atinge milhões de pessoas em todo o mundo e para a qual ainda não há cura definitiva.