Dança cósmica: cientistas simulam futuro encontro entre a Via Láctea e Andrômeda
Estudo australiano analisa galáxias em processo de fusão para entender o destino do nosso sistema galáctico em 2,5 bilhões de anos
14 de Agosto de 2025 às 15:15
A Via Láctea e a galáxia Andrômeda estão em rota de colisão — e, segundo pesquisadores, esse futuro encontro pode ser menos catastrófico do que parece. Um novo estudo realizado por cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, oferece pistas de como será essa fusão cósmica, prevista para acontecer em cerca de 2,5 bilhões de anos. A pesquisa se baseia na observação de um par de galáxias em estágio avançado de interação, revelando um espetáculo que se assemelha a uma verdadeira “dança” gravitacional.
Coordenado pela astrofísica Sarah Sweet, o trabalho integra o projeto internacional Delegate, que conta com a colaboração de cientistas da Universidade Nacional Australiana e outras instituições ao redor do mundo. O objetivo: entender se o destino da Via Láctea é uma exceção ou parte de um padrão comum no universo.
“Estudamos duas galáxias espirais semelhantes, que estão cerca de 3 bilhões de anos à frente da Via Láctea e de Andrômeda em seu processo de fusão”, afirma Sweet. “Essas galáxias — NGC 5713 e NGC 5719 — interagem como se estivessem dançando, acompanhadas por satélites anões que giram ao seu redor.”
Observando o futuro no presente
As galáxias NGC 5713 e NGC 5719, localizadas a centenas de milhões de anos-luz da Terra, estão hoje vivenciando um estágio evolutivo mais avançado do que aquele que ocorrerá no nosso Grupo Local — conjunto de galáxias que inclui a Via Láctea, Andrômeda e diversos satélites menores. Ao observar esse sistema em fusão, os cientistas conseguem projetar cenários mais realistas sobre o que pode acontecer quando as duas grandes espirais do nosso grupo finalmente se encontrarem.
Entre os fenômenos mais intrigantes observados estão os satélites anões — pequenas galáxias — que orbitam em planos bem organizados ao redor das principais. A descoberta sugere que o mesmo tipo de alinhamento pode surgir quando nossa galáxia colidir com Andrômeda.
Desafios e descobertas
De acordo com Helmut Jerjen, da Universidade Nacional Australiana e autor principal do artigo publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, analisar outros sistemas é fundamental para compreender melhor a evolução galáctica.
“Queremos saber se o nosso Grupo Local é típico ou uma anomalia cósmica. Isso é fundamental para generalizar as descobertas e entender a evolução das galáxias em um contexto mais amplo”, explica Jerjen.
No entanto, nem tudo nas simulações astronômicas mais avançadas corresponde ao que os telescópios revelam. Os modelos computacionais frequentemente falham em replicar a formação e o alinhamento dos satélites anões nos planos orbitais das galáxias maiores. Isso indica a necessidade de aprimorar esses algoritmos para que reflitam melhor a realidade observada.
Reflexão além da ciência
Para Sweet, além de expandir o conhecimento astronômico, a pesquisa também convida à contemplação de nosso lugar no cosmos.
“Entender o destino da nossa galáxia nos lembra que fazemos parte de uma história cósmica muito maior, que se desenrola ao longo de bilhões de anos”, afirma a astrofísica.
